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quarta-feira, 28 de março de 2012

Apendicite

Em certa medida,
duvido não ter morrido.
E o que fiz da vida?


Gilberto de Almeida
28/03/2012



São Paulo


 
Gilberto de Almeida
(28/03/2012)

Persistência



Gilberto de Almeida
(28/03/2012)

terça-feira, 27 de março de 2012

Torcida Bandida



Na hora do esporte
Torcida insana, bandida
Do amor, faz a morte.

Gilberto de Almeida
(27/03/2012)


Unidade


Ontem a beldade,
mais calma, mostrou a alma:

agora unidade.


Gilberto de Almeida
27/03/2012


Ser Gregário

Ser humano, ser maluco.
Às vezes bom, se sozinho;
às vezes mal, quando em grupo.

Gilberto de Almeida
27/03/2012

segunda-feira, 26 de março de 2012

Amor é fogo que arde sem se ver

(Luiz Vaz de Camões)

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade
se tão contrário a si é o mesmo Amor?


domingo, 25 de março de 2012

Poeminha do Contra

(Mário Quintana)

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!


O Pensamento

(Guilherme de Almeida)

O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga.




sábado, 24 de março de 2012

Se o sol brilhar

Se o sol brilhar
e você não estiver,
não haverá luz.

(Millôr Fernandes)

Na imensa descida

na imensa descida
a catarata
se suicida


(Millôr Fernandes)

Probleminhas terrenos

probleminhas terrenos:
quem vive mais
morre menos?


(Millôr Fernandes)

Na poça da rua

na poça da rua
o vira-lata
lambe a lua


(Millôr  Fernandes)

Esnobar

Esnobar
É exigir café fervendo
E deixar esfriar.


(Millôr Fernandes)

Poemeu efemérico

Viva o Brasil
Onde o ano inteiro
É primeiro de abril


(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Antes que o marrom nos cobre

Vinho vir sobre o verde
claro: em tom de vermelho!
Ou rosa, acorde paixão púrpura,
ou prata, acorde paixão nobre
em cinzas pinceladas de bege.

Já não mais creio que amarelo cura
as úlceras do amor... Ah! deve haver de-
dicação - que nos protege
- Antes que o marrom nos cobre
a alma, refletida no espelho.

Glberto de Almeida
(23/03/2012)

Chope

Saí do trabalho


Estou c'o pensamento embriagado
e o sentimento em louro efervescente
de branca espuma a refrescar-me a mente
pois hoje é sexta-feira, é feriado!

Já com preguiça


E enxergarei a noite extasiado
do ângulo focal da etérea lente,
do etílico pensar que, inconsequente,
transforma o amargo em doce amargurado.

Quero mesmo é sossego


Boêmia, a vida vai sentar-se à mesa
pensando que o universo estacionou, [pe-]
cando, desejo um pão com calabresa,

O "garçon" traz salsicha


sem pressa, sem horário de metrô - [pis-]
tache! - sem garçom. Mais nada tem clareza...
Que tudo exploda, que esta noite é chope!


Que então eu bebo com profundo desapego...


Gilberto de Almeida
(por volta de 1992)

Retornar

(A todas as pessoas queridas de cujas vidas, por tanto tempo, estive ausente)

Retornar talvez seja como
acordar de interminável coma,
E perceber que a vida persiste
No coração de quem se ama;
E isto é alegre e isto é triste...

É triste porque dessa ausência,
Não resta fato, nem lembrança...

E alegre, porque o retorno
é o reencontro da esperança.

Gilberto de Almeida
(21/03/2012)

quinta-feira, 22 de março de 2012

Uma Canção

(Mário Quintana)

Minha terra não tem palmeiras...
E em vez de um mero sabiá,
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há.

Minha terra tem relógios,
Cada qual com sua hora
Nos mais diversos instantes...
Mas onde o instante de agora?

Mas onde a palavra "onde"?
Terra ingrata, ingrato filho,
Sob os céus da minha terra
Eu canto a Canção do Exílio!

quarta-feira, 21 de março de 2012

Canção do Exílio


(Gonçalves Dias - 1847)

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.



terça-feira, 20 de março de 2012

Ninguém é o que parece

(Luís Fernando Veríssimo)

Ninguém é o que parece
ou o que aparece.
O essencial não há quem enxergue.
Todo mundo é só a ponta
do seu iceberg.


Luis Fernando Veríssimo - Sem Título I

(Luis Fernando Veríssimo)

A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo?

segunda-feira, 19 de março de 2012

sexta-feira, 16 de março de 2012

Estou precisando de lua

José Gilberto Tristão de Almeida
(publicado no jornal "O Comércio da Franca" em 12/03/1950
- dedicado a Cornélia de Almeida)


Os teus olhos
e o teu sorriso
são três pedaços de lua.
E é de lua que eu preciso.


Estou precisando de lua prá reformar minha vida.

Mas, da lua, o meu pensamento
dista uma grande subida.


Estou precisando de lua

mas não quero lua difícil,
distante, inatingível, morta.
Quero lua mas é concreta,
palpável, bonita, etecetera.


Quero lua do teu olhar

e lua do teu sorriso:
- São três pedaços de lua,
dessa lua que eu preciso.



quinta-feira, 15 de março de 2012

Preciso de Você

(dedicado a Caio C. Braga)

Preciso de você.
Você é minha fé,
Meu carinho,
Meu calor.
Preciso de você para viver,
Pois você é minha vida,
Meu grande amor.

Carolina G. Almeida
(14/03/2012)

terça-feira, 13 de março de 2012

Amor Geométrico

(Bastos Tigre)

O meu amor é um círculo; evidente
É que o centro do amor é o coração;
Ando há muito buscando uma tangente
Ou seja – um pé – para pedir-te a mão.


Deste-me corda e eu digo francamente
Que abrir o “arco” procuro agora em vão;
Cupido, o deus menino onipotente,
Fundo cravou-me a “flecha”, o maganão!


Do círculo do amor calculo a área:
pr2… e a mente vária
Sinto, enquanto a paciência se me esvai.


Conheço pi (valor aproximado);
O que, porém, me deixa atrapalhado
É o “quadrado do raio”, que é teu pai!


Carrossel Urbano

Tantos acontecimentos vãos, tormentos nulos, lixo, escória na memória,
Na história, caravana invadindo o cérebro complexo,
Se esvaindo pelos plexos desconexos
Pela mente confusa, dormente, reticente, reclusa...

Tanta desgraça ronda a praça tonta,Vai tomar as residências, esquivas cadências a fugir do ar,
Penitências a afligir o andar no mar, domar o mar.
Martírios, delírios de ver a cidade em clausura
Domiciliar, dormir, conciliar, sem conseguir par...

A lasca do concreto urbano, a carrasca no decreto, o dano
Não está dando, inundando, quando tudo se contorce em completo casuísmo,
Autismo, o autismo louco e ébrio esgarça e arregaça o cérebro complexo
Se esvaindo pelos plexos...
Desconexos...

Gilberto de Almeida
(por volta de 1992)


segunda-feira, 12 de março de 2012

Da Discrição

(Mário Quintana)

Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...

Da Felicidade

(Mário Quintana)

Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz!


sábado, 10 de março de 2012

Soneto da Fidelidade

(Vinicius de Moraes)

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.


Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Homenagem ao Monumento Desconhecido

(dedicado ao monumento desconhecido)

Bundinha Jeans
Apertadinha
Na bermuda,
Chegou
Tesuda
No Metrô.
Tatua perna,
Bustiê de taça,
Sutiã prá quê?
E tem baderna
No cabelo d'ouro
Que se escorrega...
Cinturão de couro,
Tudo Brega:
Mas uma graça!

Gilberto de Almeida
(por volta de 1992)

sexta-feira, 9 de março de 2012

Próspero

José Gilberto Tristão de Almeida


O Brasil se tornou rico e próspero
Conquistou mais um tesouro
Quando do rio na foz Pero
Vaz de Caminha descobriu ouro.

==============
Nota: esses versos foram criados por meu pai, há muitos anos, 
quando o desafiei a encontrar uma rima para a palavra "próspero".

Lâmpada

José Gilberto Tristão de Almeida


Mandou ao sacristão o senhor vigário
Que fosse buscar uma lâmpada
para iluminar a estampa da
Virgem do Rosário.

==============
Nota: esses versos foram criados por meu pai, há muitos anos, 


quando o desafiei a encontrar uma rima para a palavra "próspero".

Soneto de Uma Sílaba Só

José Gilberto Tristão de Almeida


A
cor
da
flor,

O a-
mor
e a
dor...

Tu-
do é

o
que é:
pó!

quinta-feira, 8 de março de 2012

Via Láctea

(Olavo Bilac)

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...


E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.


Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"


E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."


Velho Tema - I

(Vicente de Carvalho)

Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos

Velho Tema - II

(Vicente de Carvalho)

Eu cantarei de amor tão fortemente
Com tal celeuma e com tamanhos brados
Que afinal teus ouvidos, dominados,
Hão de à força escutar quanto eu sustente.

Quero que meu amor se te apresente
— Não andrajoso e mendigando agrados,
Mas tal como é: — risonho e sem cuidados,
Muito de altivo, um tanto de insolente.

Nem ele mais a desejar se atreve
Do que merece; eu te amo, e o meu desejo
Apenas cobra um bem que se me deve.

Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo;
E vou de olhos enxutos e alma leve
À galharda conquista do teu beijo.

Finados - I

(dedicado a meu Pai)

Pai, onde estás, meu pai ?
 
O que és ? És a brisa que passou por mim ?
Talvez sejas flores que hoje ornamentam o jardim...
Talvez nem queiras saber do meu transtorno,
Talvez não queiras saber de tristeza
Daí do alto do trono
Ao lado da grande alteza.

Pai, onde estás, meu pai ?

O que és ? És este morro ao meu lado ?
Talvez sejas nuvens neste céu nublado...
Talvez nem queiras saber da minha saudade,
Talvez não queiras saber de sofrimento
De onde estás na eternidade
Transformado em pensamento.
 
Pai, onde estás, meu pai ?

O que sejas - a brisa, o morro, o pensamento, a alma
- Tens razão de não te ocupares
Das dores e dos pesares
Deste coração postumamente aflito:
Quero que sigas com alegria e calma
Teu rumo certo ao infinito.
                                                                                                                                         
Gilberto de Almeida
(1994)

quarta-feira, 7 de março de 2012

Dois Camelos

(dedicado a Marcia)



No meu sonho éramos dois camelos passeando no deserto.
Você teve sede,
eu era a água;
sentiu calor,
eu era a sombra...

Mas, de repente, sem eu saber por quê
você ficou triste;
eu era a mágoa.

Noutra noite não tive sonhos,
nem sequer adormeci.
Você sonhava;
eu assisti.


Gilberto de Almeida
(por volta de 1992)


Antes que Aconteça

(a Marcia)


Se algum motivo descabido, o gesto rude,
a voz exacerbada, o desleixado olhar;
que seja mesmo o meu semblante a incomodar,
o pensamento alheio, o porte ou a atitude;

se o vão tagarelar, a súbita quietude,
o jeito de vestir a roupa sem passar;
que tenha eu feito alguma coisa em tal lugar,
ou mesmo aquilo que não fiz, ou que não pude;

se algum deslize incauto, algum descuido tolo
vier lhe provocar qualquer constrangimento,
pense, talvez - será, quem sabe, o meu consolo! -

que eu seja louco, alucinado ou desatento,
talvez, de tanto amar, e não saber expô-lo,
mas incapaz de machucar-lhe o sentimento.

Gilberto de Almeida
(por volta de 1992)

Nos Teus Cachos

(dedicado a Marcia)

O mundo acabou?
Diacho!
E eu com isso?
Prá mim começou
nos teus cachos
o paraíso ...

Gilberto de Almeida
(por volta de 1992)

A Menina dos Meus Olhos

(dedicado a Marcia)

A menina dos meus olhos
Quando vai dormir
Tira as lentes de contato
Para enxergar o amor
Depois se enche dessa luz macia da lua
E vem iluminar meu coração
A seu lado na cama.

Gilberto de Almeida
(por volta de 1992)