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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O congestionamento...

 
 
Gilberto de Almeida
30/11/2012
 


Julgar alguém

(Vicente Galeano)

Por tanta vez na vida somos
julgados torpes, com desdém,
e a vida temos, em seus tomos,
escrutinada por alguém;
se a vã defesa, contrapomos,
se vale muito, é algum vintém!
Mas, que nos leva a agirmos como
algozes, e julgar também?

Um haicai que diz que o amor não é sonho

 
Reparo no abraço
que lança nova esperança
dançando no espaço.
 
Gilberto de Almeida
30/11/2012
 
 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

No meio da pedra

 
Gilberto de Almeida
29/11/2012
 

Certo dia, na UTI


- O câncer lhe tomou a parte interna da bexiga.
A sonda pela uretra lhe alivia a dor pungente
e a cor sanguinolenta que, na urina do doente
assusta, denuncia o sofrimento que o fustiga!

- Mas e esse tubo aqui, doutor, que é? Isso me intriga...
- Ah, sim! Mas claro! Tive que tomar conduta urgente:
há pus no peritônio, mas bem antes que isso aumente
é certo pôr o dreno. Em muito ajuda essa medida!

E olhava, a esposa aflita, o triste efeito do tabaco.
Chorava inconformada: - Meu Deus, doutor, onde me agarro?
A dor, o sofrimento, como enfrento? Como ataco?

No entanto, o quadro triste aproximou-se do bizarro
quando o marido ergueu-se, entorpecido, alheio e fraco
e, alienado, ousou pedir: "- alguém me dá um cigarro?"

Gilberto de Almeida
30/11/2012

Alma ferida

A minha tristeza
transcende o fumante
além do caixão
por anos adiante...
Gilberto de Almeida
29/11/2012

Beijo de línguas


You gave me that Kiss
under London fog.
 Outono em Paris:
que o resto se afogue!
 
O amor nada teme:
- Amour, Je vous aime.
 
Gilberto de Almeida
29/11/2012
 
 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Que foi, nunca viu?

(Juliana Paula Landim)

 
 

Heteroabreugrafia

Caveira com Cigarro - V. Van Gogh




















O fumante é um fingidor.
finge tão completamente
que acredita que é sabor
o odor que exala dos dentes.


E se finge de coitado,
mas os riscos sabe bem.

Nesse jogo calculado,
de vítima nada tem.


E assim nas garras da moda
zomba, e afronta a razão,
até que um dia ele acorda,
(mas é tarde!) num caixão.


Gilberto de Almeida
27/11/2012

Parodiando (com meu pedido de perdão ao autor,
mas é por uma boa causa) Autopsicografia (Fernando Pessoa)


Grande lago



Um peixinho que vivia
num aquário, no Brasil,
desolado, certo dia,
de repente escapuliu.

Foi cair em mesa fria
já sem ar, olhar vazio,
sem nenhuma companhia,
coração batendo a mil!

Mas, então, faz uma prece...
Logo, em meio a todo estrago,
rei Netuno lhe aparece!

Depois disso, a revirada:
hoje, o peixe, em grande lago
tem o amor da "peixa" amada!

Gilberto de Almeida
28/11/2012

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Quatro haicais por um coração sublimado

(A Marcia)

Estava pensando...
a boa história ainda ecoa
na estrada em que eu ando.

No nosso recato,
a vida nos deu guarida:
por tudo sou grato.

Só levo comigo
o som do quanto foi bom;
o resto é esquecido.

E erguendo o sextante
respeito o que já foi feito,
porém sigo adiante.

Gilberto de Almeida
27/11/2012

Infelizmente











O infeliz mente para si mesmo!
Cansei de por a mão na cabeça...

A indústria do tabaco já faz isso o dia inteiro.

Infelizmente é assim mesmo:
câncer de pulmão na cabeça!

E a indústria do tabaco é que faz isso! Por dinheiro!

Gilberto de Almeida
27/11/2012


Visão em braille

 
 
Do ponto de vista de cegos (que somos!),
luz e sombras são apenas questões
de ponto de vista!
 
Gilberto de Almeida
27/11/2012
 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O Guardador de Rebanhos - IX

(Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.

Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito de comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

Condenação cruel



Ontem tive um pensamento terrível!

Talvez fosse um sinal de alerta,
um sinal de que preciso vigiar meus pensamentos,
um sinal de que a mais perversa crueldade ainda reside em mim.

Cheguei a desejar
que os donos de fábricas de armas,
que os traficantes de drogas
e, claro, os donos de fábricas de cigarros

fossem todos julgados por crimes contra a humanidade
e condenados, sem piedade,
a fumar,
pelo resto dos dias que lhes sobrassem.

Que Deus me perdoe!

Gilberto de Almeida
25/11/2012

Poesias da Vida - XXVIII

(Juliana Paula Landim)

Já tive uma casa.
Vendi.

Já tive um carro.
Vendi.

Já tive cartão de crédito.
Vendi.

Já tive princípios e crenças e valores morais.

Ainda bem que nem tudo no mundo é comércio!

Deixa a roda girar

 
 

 
Gilberto de Almeida
26/11/2012
 
 
 

domingo, 25 de novembro de 2012

O último cigarro

Quando o último cigarro
terminou de fumar aquele senhor idoso
ele só tinha trinta e seis anos de idade,
mas morreu!

Gilberto de Almeida
25/11/2012

Cenas em um Shopping - XIII

Amarelinha
 

Gilberto de Almeida
25/11/2012
 


Cenas em um Shopping - XII

 
 
Um yorkshire muito arrumadinho
conduzia a madame
pela coleira
 
Gilberto de Almeida
25/11/2012

Mensageira

 
 
Adoro a reclusão serena.
 
Adoro o isolamento que encontro no terreno dos meus pensamentos.
 
Adoro a enseada tranquila que me serve de porto.
 
Mas uma gaivota me disse
 
que também existe vida
 
em mar aberto.
 
 
Gilberto de Almeida
25/11/2012
 
 


sábado, 24 de novembro de 2012

Com Alberto, meio misturado, meio inteiro

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Hoje eu e o Alberto nos misturamos, não sei como!
Eu sei que, de repente, eu estava a pensar como ele,
Pensando em cousas e não em coisas.
Estava a pensar como ele,
A pensar com os olhos e olfato, e o paladar, mas sem pensar.
 
E olhei pelo vão duma cerca e vi um pedaço de mundo
Que para mim era o mundo inteiro
Porque era o pedaço de mundo que eu podia ver.
E esse pedaço de mundo era um belo lago e árvores e flores e um banco vazio
Que tinha toda a grandeza e a beleza de serem um belo lago e árvores e flores e um banco vazio.
 
Como era bonito ver o mundo inteiro naquela brecha de cerca!
Como era bonito saber que o mundo inteiro cabia ali,
Porque era tudo que eu via, e meu mundo era o que eu enxergava,
Mesmo eu sabendo que para os outros era apenas um pedaço de mundo
E não o mundo inteiro.
 
Mas como não havia somente o pensamento do Alberto,
Como o meu pensamento também estava junto,
A idéia de que o pedaço de mundo que eu via
Fosse o mundo inteiro,
Mas também fosse somente o pedaço de mundo
Que eu via através de uma brecha na cerca
Me fez continuar a pensar
Com a outra metade do pensamento
que não era do Alberto, mas era minha.
 
Pensei que meia vista pudesse conter uma paisagem inteira;
que, por meia passagem, pudesse passar um camelo;
que meia dúzia era qualquer quantidade pouca, mas suficiente, e que não era seis;
que meio termo podia ser melhor que as últimas consequências;
que meia lua podia ser a lua inteira;
que meio fio não tinha nada de metade, mas era a calçada inteira;
que metade de um amor sou eu e a outra é você, mas ambos somos inteiros...
 
E aí eu fui pensando e pensando e pensando,
cada vez mais querendo entender que tudo que era meio continha algo que era inteiro
e meu pensamento foi ficando cada vez mais longe do pensamento do Alberto
e acabei por pensar num soutien meia-taça
e aí parei de pensar no que era metade
e passei a pensar no que era inteiro!
 
Gilberto de Almeida
24/11/2012
 
 
 
 

A vida ao Deus Tabaco


Que agora vou pagar para morrer
é fato, porém todos morrerão!
Bem sei, mas a questão não é o saber:
sou débil! E a fraqueza, essa é a questão!

Eu sei que nos refolhos do meu ser
o câncer e as doenças surgirão!
Não quero, mas não basta o não-querer;
Passivo, dou-te a vida, oh!, alcatrão!

Sou tolo, irresponsável, suicida,
sou louco, inconsequente, esquivo e fraco.
Mas que fazer? Entrego a minha vida

não a quem amo; dou-lha ao Deus Tabaco!
E se me mato aos poucos, delinquente,
se desisti de mim, que ninguém tente!

Gilberto de Almeida
24/11/2012

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Poesias da Vida - XXVI

(Juliana Paula Landim)

Descobri que tenho alergia ao leite
E também tenho uma TPM do caralho
(eu sei que isso não existe
e você sabe que é força de expressão,
então não enche o saco - que eu também não tenho!).

O Problema agora é o chocolate!
Só existem três maneiras de enfrentar uma TPM lascada;
- Comendo chocolate (não posso mais!);
- Comendo chocolate sem lactose (horrível!);
- Não comendo chocolate (lasquei-me!).

Então vambora na última que Deus dá o frio conforme o cobertor!

Pressa



O fumante e o cigarro
têm a mesma pressa
de virarem cinzas.
 
Gilberto de Almeida
10/11/2012

 

Quem fuma quem?


Gilberto de Almeida
23/11/2012
 


O Guardador de Rebanhos - VII

(Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casas no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Cinco haicais servidos numa mesa para um



I

De alguma maneira,
nas cores, por entre as flores,
uma só cadeira.

II

Enquanto esperar
alguém (quem sabe se vem?),
ponho um só lugar...

III

A serenidade
é o vinho de quem, sozinho,
avança na idade.

IV

Que estranha beleza
- o pão sem reclamação! -
está posta à mesa...

V

Sozinho entre as flores?
Lá fora existe quem chora
por bem mais horrores...

Gilberto de Almeida
23/11/2012

 


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Soneto de amor em duas oitavas (homenagem ao dia do músico)

cil foi que ele engatara
, a fim de dar passagem.
Mi ra a moça como rara
bulosa flor. Miragem!

Sol ta a porta e então dispara...
se vai, mas e a coragem?
Si lencia, fecha a cara...
! Que dó! Não interagem.

deas há, mas, arredia,
Mi gra a alma ao peito agora.
cil é! Mas quem diria?

Sol ta o verbo e enfim lhe implora...
bios tocam melodia!
Si nos cantam nessa hora!

Gilberto de Almeida
22/11/2012


Com mais luz

 
 
O amarelo
nada mais é que o verde,
com mais luz.
 
O branco
nada mais é que o preto,
com mais luz.
 
A espuma tranquila que chega à praia
nada mais é que a força implacável das ondas,
com mais luz.
 
O aveludado
nada mais é que o áspero
com mais luz.
 
O silêncio
nada mais é que a gritaria e a algazarra,
com mais luz.
 
A doçura, a ternura e o perdão
nada mais são que a amargura, a aspereza e o rancor,
com mais luz
 
A humildade, a abnegação e a caridade
nada mais são que o orgulho e o egoísmo,
com mais luz.
 
Então, o amanhã
nada mais será que hoje,
com mais luz.
 
E deverá haver um dia em que a luz será tanta que me cegará!
 
E a cegueira
nada mais será do que a minha visão de hoje,
com mais luz.
 
Gilberto de Almeida
22/11/2012
 


Escalada


 
 
Gilberto de Almeida
22/11/2012
 
 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Eu e Alberto, sem vampiros, nem lobisomens



Para quê levar o Alberto ao cinema?
Fiz essa pergunta em meu íntimo, muito antes das imagens de vampiros e lobisomens começarem a aparecer na tela.

Foi por isso que mantive o Alberto no bolso e de lá ele não saiu até que a seção terminasse.
Por que mostrar a ele, que tanto acreditava no que via, aquilo que, no seu vilarejo, jamais haveria de ver?
Por que mostrar justo a ele, que já era feliz sem isso?

E o filme acabou. E o Alberto saiu do bolso.

E não houve maneira de fazê-lo entender que raios era o tal do cinema!

Gilberto de Almeida
21/11/2012

Poesia em círculo

(À professora Gerlane Fernandes e seus alunos) 

Descobri que lá na Bahia tem,
que lá na Bahia tem alguém
que pega um poema
e põe cor,
e põe voz,
e põe sentimento,
e põe na sala de aula.
Existe alguém na Bahia
que pega um poema
e põe poesia.

Gilberto de Almeida
21/11/2012


Vejam  que  bacana a versão deste poema criada pela professora Gerlane Fernandes: 



Não descobri o elixir

 
Às vezes a vida emperra...
E eu não descobri o elixir!
Preciso descer pelo verde, o amarelo e pelos vários tons de laranja,
e, ainda, nem tudo se arranja:

- parece que só vou conseguir
depois de esborrachar na Terra.

 Gilberto de Almeida
21/11/2012

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Eu e Alberto, na cafeteria

Faz tempo que não explico: eu sempre trago o Alberto no bolso, ou na maleta, ou no pensamento. Exceto, talvez, quando estou em Santorini, ou quando estou em companhia da Elettra Rossellini (ou de alguém tipo ela)!

Nesse dia eu estava na cafeteria, no Shopping Center, em São Paulo, pouco antes do horário do cinema. Deixei o Alberto sobre a mesa e pedi dois cafés expressos, com acúcar.

Ele já tinha tomado café antes, claro, mas não esse. Não o expresso. E não com açúcar. Somente com açúcar mascavo.

Vieram os dois cafés, água com gás, biscoitinho.

E o Alberto adorou.
Ele quis mais um. E mais outro. E mais água com gás. E mais biscoitinho!

E saiu da cafeteria querendo voltar.

E eu me senti muito mal.

Como se tivesse oferecido maconha a uma criança de cinco anos.

Gilberto de Almeida
20/11/2012



O Guardador de Rebanhos - VI

(Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)

Pensar em Deus é desobedecer a Deus
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...

Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos!...

Com o Alberto, em Santorini

 
Tem gente que é mala, mesmo
(e não digo isso a esmo)!
 
Pois, estava em Santorini
- sem o Alberto - um belo dia
desfrutando a companhia
tipo Elettra Rossellini
quando o bem-bom foi-se embora.
 
Eis que me viro e, lá fora
- pra provar o que eu lhes falo
(tem gente que é mala, certo?) -
de repente surge o Alberto
desmontando do cavalo!!!
 
Então, por favor, me fala:
- Esse Alberto, não é mala?
 
Gilberto de Almeida
20/11/2012
 
 
 
 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Poesias da vida - XXV

(Juliana Paula Landim)

Se existe poesia num banheiro,
devia ser naquele.

Tinha uns vasos de violeta
sempre que eu ia.
E perfume!

Mas, se existia poesia num banheiro,
ela acabou.

Porque a última energúmena que usou
- e que deve andar por aí que nem uma dondoca! -
não deu a descarga!

Desconstruindo um soneto de outono (com Alberto)


Nas cores e matizes da estação
do outono, ao reparar, me desconcerto.
Estúpido, imagino que elas são
oásis, que me encontro no deserto.

Nas cores e matizes vivo, então,
na breve epifania com que flerto,
mas, tolo, não encontro explicação
até que me aparece, astuto, o Alberto:

- Por que dar forma e imaginar a poesia?
Por que a métrica? Para que as rimas?
Pára agora mesmo com esse soneto!

Diante do meu olhar assombrado, ele arremata:
- Queres poesia?
Então apenas tira os sapatos
E caminha descalço sobre as folhas de outono.

Gilberto de Almeida
19/11/2012


domingo, 18 de novembro de 2012

Tom sobre tom

Tom sobre tom
cor sobre cor
torre cobertor

rio sobre rio
beleza sobre beleza
mesma sobremesa

poesia sobre poesia
nada sobre nada
tudo sobretudo

passei e não vi
vôo sobrevôo
vi: sobrevivi.

Gilberto de Almeida
18/11/2012


Stonehenge

 
 
Gilberto de Almeida
17/11/2012