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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Três poemetos crônicos

I

O trem estaciona.
Desentrenha a multidão esbaforida.
De longe, venho pela passarela
como sempre, solitário;
como sempre, na contra-mão!

Vejo o estouro da humanada que se aproxima.
Sobreviverei?
Estanco!

Quando abro os olhos, estou vivo!

Sobreviver não é uma decisão que nos compete!

II

Descendo as escadarias da estação,
passando por uma coluna
e depois do poço do elevador
existe um recanto.

Por detrás do recanto,
três cadeiras.

Cheguei no exato momento em que a moça guardava numa sacola
um par de sapatilhas sem salto.

Calçava agora uns sapatos vermelhos
com múltiplos apliques dourados
cintilantes...
de meio metro de altura!

E foi aguardar o trem.

III

Quando o trem parou na estação
o carro de passageiros estava lotado.
Ninguém desceu!

Fiz cara de sabonete
e escorreguei para dentro.
Ninguém deu um passo atrás,
não houve o mínimo favorecimento,
nenhum gesto!

Fiquei de frente para um senhor gordo
que me lançou dois olhos dardejantes!

Percebi que o que comprimia minha bunda
era a bunda de uma mulata
(mulatas têm esse hábito genético de possuírem bundas volumosas!
Eu não podia culpá-la!);
menos mal!

Consegui segurar no cano
(por favor, não me entendam errado! Trata-se daquela estrutura de metal que existe nos trens urbanos exatamente para isso, para as pessoas se segurarem.)
Depois fiquei procurando entre todas aquelas mãos, qual era a minha!

Só tive certeza mesmo quando o trem parou na próxima estação.
Várias mãos se soltaram.
A que sobrou era a minha.
Procurei sair rápido da frente das pessoas.
Tive certeza de ouvir o senhor gordo na minha frente rosnar...

O trem esvaziou,
eu me sentei.

Depois pensei que tudo aquilo deveria valer a pena
pois, chegando ao meu local de trabalho,
haveria alguém que eu convenceria a parar de fumar,
alguém que eu tranquilizaria
ou, se nada de útil eu pudesse fazer por ninguém,
,no mínimo,
cumprimentaria os pacientes 
com um sorriso!

Gilberto de Almeida
15/05/2013

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