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sábado, 27 de setembro de 2014

O Guardador de Rebanhos - XXXII

(Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)

Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.

Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.

E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia.

(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E os que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu - não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.)

Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmúrio longínquo dos chocalhos
A esse entardecer
Não parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem à missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.

(Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa - existir claramente,
E saber fazê-lo sem pensar nisso.

E o homem calara-se, olhando o poente.
Mas que tem com o poente quem odeia e ama?


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A pausa


Gilberto de Almeida
26/09/2014


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Pelo menos


Gilberto de Almeida
22/09/2014



domingo, 21 de setembro de 2014

Na escuridão da noite



Na escuridão da noite,
quando as pombas voam,
se não estamos atentos,
mal as percebemos.

E assim, mal percebemos,
na escuridão da noite,
quando os anjos velam,
se não estamos atentos.

Se não estivermos atentos,
procurando por algo no céu,
virão as pombas,
virão os anjos,
e, de sua passagem alva,
de sua passagem luminosa,
nossos corações desprevenidos
continuarão de noite.

Gilberto de Almeida
21/09/2014


terça-feira, 16 de setembro de 2014

As sombras


Se não há mais nada,
apenas,
as sombras são
assombração;

se não amais nada,
há penas!

Gilberto de Almeida
16/09/2014


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Do Alto


E quando a luz do sol esquenta a face,
na tarde fria,
é como se - meu Deus! - anunciasse
que o Amor viria!

Gilberto de Almeida
04/09/2014