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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Santo remédio!


Tantas doenças - nem bem sei quais são! -,
tantos os males que roubam-me a calma,
furtam-me o sono na noite que espalma
negras cortinas de hostil solidão!

Beco profundo em que atiro-me em vão,
bruma soturna que envolve-me a alma!
Nada - parece! - ameniza ou acalma
ânsias tão tristes da triste razão!

Mas não há fonte incansável de tédio
nem mais há mal que me faça refém
por infinitos tormentos de assédio:

se a dor da vida, sutil, me detém,
sempre disponho de santo remédio:
- permanecer trabalhando no bem...

Gilberto de Almeida
22/12/2015


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A gárgula e o cachorro bravo


Pergunto, quase intransigente,
por que será que não consigo
fugir das garras do perigo
que invade os páramos da mente.

"Orgulho", espinho persistente,
há tanto tempo já comigo,
é esse o nome do inimigo
audaz que tenho pela frente.

Contra o feroz cachorro bravo,
disputa a gárgula, em motim!
É luta interna que hoje travo

(e travo a eras, já sem fim!),
nas mãos de quem me faz escravo,
mas nasce, vive e morre em mim!

Gilberto de Almeida
18/12/2015



Boas Festas!


É meio à toa,
mas que seja!

Pois afinal
o que me resta
se, no natal,
as coisas boas
que me desejas
são as festas?

Gilberto de Almeida
18/12/2015


Almaço


Almoço.
Almaço.
Alma só.

Gangaço.
Cansaço.
Cansa só.

Estardalhaço.
Estar palhaço.
Estar palha,

só!

Gilberto de Almeida
18/12/2015


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Haicai e flores - XLIII


Na noite de insônia
que tenho, vejo o desenho;
a flor de Helicônia.

Gilberto de Almeida
15/12/2015



Veja, no vídeo abaixo, como esse desenho foi realizado pelo artista: 




Falta de lugar


Na sala havia uma árvore
de natal 
e muitos presentes.

Os homens se espalhavam
pelo ambiente
e discutiam os assuntos
da semana,
da economia,
da política,
das carreiras profissionais.

As mulheres atarefadas,
entre brincos
e colares,
encantadoras,
preparavam a mesa.

Da cozinha saíam os últimos quitutes
já com pressa
por causa do horário.

A criançada algazarrava e corria
por toda parte...

Os adolescentes, 
alheios,
distraíam-se de tudo
nos telefones
celulares.

Um grupo de jovens criticava
o presidente
e o sistema dominante.

No quarto dos fundos o tio obeso,
com esforço,
entrava na fantasia.

E no estábulo se encontravam
Maria (que estava grávida)
e José, 
que ninguém via.


"Enquanto lá estavam, 
completaram-se os dias
para o parto.

e ela deu à luz seu filho primogênito,
envolveu-o com faixas
e reclinou-o numa manjedoura,

porque não havia um lugar para eles 
na sala."

(Lucas, 2: 6,7)

Gilberto de Almeida
15/12/2015

sábado, 12 de dezembro de 2015

Jeito de viver


A vida já traz as metáforas.
Cabe a nós escrevermos o poema.

Gilberto de Almeida
12/12/2015

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Oníricas virtudes


Talvez, quando liberto
do corpo, que abandono
à noite, pelo sono,
eu ponha a descoberto

mistérios do concerto
do mundo, cujo Dono
responde, se eu questiono,
até que, enfim, desperto...

Quem sabe, então, se o informe
clamor das latitudes
por onde vai quem dorme

depois, toque-me as rudes
tendências e as transforme
em pálidas virtudes?...

Gilberto de Almeida
11/12/2015



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Aniversário


Gilberto de Almeida
09/12/2015



segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O lado oculto do natal


Gilberto de Almeida
07/12/2015



sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Acaso

(Álvaro de Campos/Fernando Pessoa)

No acaso da rua o acaso da rapariga loira. 
Mas não, não é aquela. 

A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro. 
Perco-me subitamente da visão imediata, 
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua, 
E a outra rapariga passa. 

Que grande vantagem o recordar intransigentemente! 
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga, 
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta. 

Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso! 
Ao menos escrevem-se versos. 
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por gênio, se calhar, 
Se calhar, ou até sem calhar, 
Maravilha das celebridades! 

Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos... 
Mas isto era a respeito de uma rapariga, 
De uma rapariga loira, 
Mas qual delas? 
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade, 
Numa outra espécie de rua; 
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade 
Numa outra espécie de rua; 
Por que todas as recordações são a mesma recordação, 
Tudo que foi é a mesma morte, 
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã? 

Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional. 
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas? 
Pode ser... A rapariga loira? 
É a mesma afinal... 
Tudo é o mesmo afinal ... 

Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal.


Força oculta


Ah! Tanta gente existe - e eu também!
- que anseia fortemente por mudança
e põe-se a trabalhar, e não descansa
na luta pelo sonho que entretém.

Louvável, o trabalho pelo bem!
Sublime, o patrimônio da esperança!
No entanto, quem procura e não alcança,
que força estranha é essa que o detém?

E penso, cá comigo - e me confundo!
- se, enfim, essa vitória não viria
na esteira de um processo mais profundo...

... se o homem, mais humilde (e sábio!), um dia,
primeiro, sem tentar mudar o mundo,
buscasse a luz da própria melhoria!

Gilberto de Almeida
04/12/2015



quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Jornada


Divina
rotina
afina,
ensina;

esquina
ferina
domina
a sina.

Meu plano:
- engano
o dano!

Proclamo
o insano,
humano!

Gilberto de Almeida
03/12/2015


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Esquecimento

Gilberto de Almeida
02/12/2015



terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Procurador


Gilberto de Almeida
01/12/2015