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domingo, 31 de janeiro de 2016

Cenas em um Shopping - XXXVIII


Na mesa à frente comentou-se,
com acentuado interesse,
a respeito da nova tecnologia
que andava "vendendo muito".

Na escada rolante falava-se,
com grotesca ironia,
sobre alguém que teorizava
a respeito do pensamento
e de suas formas.

No entusiasmo oportunista
ou no impensado desdém
cada um habitava
(como sempre foi e será!)
a esfera de ignorância
que lhe era própria.

Gilberto de Almeida
31/01/2016


Miragem - IV

Gilberto de Almeida
31/01/2016


Poesia em pequenos versos


Por que é que escrevo tão pouco
em poemas pequeninos?
(nesse estranho, pobre e louco
suceder de desatinos?)

Por que é que eu me contento
com tão pouca poesia
se andar nas asas do vento
menos é do que eu queria?

Se a poesia é infinita
e resplandece no céu,
por que tolice se agita
minha alma, no papel?

Se a natureza garante
a exuberância formosa
da estrela mais radiante
ao perfume duma rosa,

da arquitetura da rocha
à beleza do poente
ou no amor que desabrocha
num coração descontente,

por que será que eu escrevo
composições sem valor,
sem fragrância e sem relevo
sobre a Voz do Criador?

Mas, porém, se fico atento,
uma voz  (não sei de onde!),
num sentido desalento,
entristecida responde:

- cada ser consegue, apenas,
dar daquilo do que é seu.
São pequenos, meus poemas,
porque pequeno sou eu!

Gilberto de Almeida
31/01/2016


sábado, 30 de janeiro de 2016

Trovas da vida - II a IV


II

Tomei um "chai" de "Massala",
mas não fiquei satisfeito;
somente o teu beijo cala
a saudade no meu peito.

III

Nada há que eu não soubesse
quando ainda não sabia.
Eu não sei! E ao que parece
também nunca saberia!

IV

Se a alegria é primavera,
benfazeja, suave e calma,
por outro lado, a tristeza
é o inverno em nossa alma.

Gilberto de Almeida
30/01/2016




História das religiões


Não dizemos em três linhas
nem parcela da Verdade
(que se revela sozinha!),

mas é possível, em seis,
dizer certas falsidades
afirmando que são leis!

Gilberto de Almeida
30/01/2016



sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Claridade


Será
cara a idade
em que tenhamos
claridade,
cara e ar de
caridade.

Gilberto de Almeida
29/01/2016


Saindo do abismo


Gilberto de Almeida
29/01/2016



Abismo


Gilberto de Almeida
29/01/201



sábado, 23 de janeiro de 2016

Meta-soneto em 8 sílabas


Mas, por outro lado, se escrevo,
não hei de esperar que ninguém,
na estrofe de baixo-relevo, 
em braile (em romeno, também!),

perceba que tanto me atrevo,
 - e até não sei bem se convém! -
na sétima folha dum trevo,
a encontrar sentido no além!

Do além foi que eu trouxe meu verso
febril, esquisito e abusado;
lá, de onde, arredio e disperso,

voltei, sem, porém, ter chegado.
Por isso, compreenda, se verso,
que o verso provém do outro lado...

Gilberto de Almeida
23/01/2016


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Miragem - III


Gilberto de Almeida
22/01/2016



Trovas da vida - I


O que é que sei eu da vida?
Quem sou eu pra saber disso?
- Vida é plena liberdade
repleta de compromisso!

Gilberto de Almeida
22/01/2016


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Desperdício


Morreu de miséria esse pobre coitado,
diziam: - por muito que havia fumado!
Sumiram nas cinzas de tantos cigarros,
além da saúde, uma casa e dois carros!

Gilberto de Almeida
21/01/2016



Miragem - II


Gilberto de Almeida
20/01/2016


terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Minha vida, meu trabalho


Minha vida, qual milhares,
continua lentamente
navegando pelos mares,
sem domínio da corrente.

As histórias, tão vulgares,
nada têm de diferente;
tão comuns, os meus lugares,
não importa se eu lamente.

Minha única esperança
- sei que não existe atalho! -
é que o esforço sempre avança

nos triunfos, que são seus;
é supor que, em meu trabalho,
minha vida alcança Deus!

Gilberto de Almeida
19/01/2016


domingo, 17 de janeiro de 2016

Miragem


Gilberto de Almeida
17/01/2016


Réstia de luz


Se observo o infinito
e vejo o mais leve cintilar
das luzes da Eternidade,
tudo o mais se desfigura
em tristeza e desolação.

Que é a lida cotidiana
atrás do alimento do corpo
e dos prazeres efêmeros?

Que é a pequenez envaidecida
que impele o homem
ao abismo de si mesmo
se não o desalento e a ilusão,
se não o esquecimento da Verdade?

Quando vislumbro uma réstia da luz
das paragens sublimes
onde impera o Bem,
os holofotes do mundo
parecem escuridão e lodo.

Quando vislumbro uma réstia de luz,
anseio por desvanecer nela,

Gilberto de Almeida
17/01/2016




sábado, 16 de janeiro de 2016

Haicai e flores - XLIV


Nem verso, nem prosa:
- afeto é o seu dialeto.
Linguagem de rosa...

Gilberto de Almeida
16/01/2016


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Olhos Iguais

(José Gilberto Tristão de Almeida - 02/10/1951)


Os meus olhos pedem luz
que eu não tenho para dar.
Claridade que, eu supus,
não havia de faltar.

Pedem luz... Quem poderia,
 nos meus olhos, acender
essa luz que todo dia
não me canso de perder?

Os meus olhos são castanhos,
só agora é que sei disso.
Por isso é que pedem luzes,
e só pode ser por isso.

Mas por quê? Se os olhos claros
nem sempre são mais bonitos
e até podem ser mais duros
que se fossem de granito?

Querem luz, mas eu não peço
- e nem hei de pedir mais -
pois devia toda gente
ter os olhos sempre iguais.


A Paz que lhe desejo


A paz que lhe desejo
não é a paz exterior
em nenhum de seus sentidos;

não é a paz que vem do mundo,
porque o mundo,
neste estágio em que ainda imperam
a ignorância e o sonambulismo,
dorme sono agitado;

nem tampouco a paz de fachada,
do semblante sereno
que oculta um turbilhão interior.

Tudo isso é falso,
tudo isso é ilusão.

A paz que lhe desejo é outra.

É aquela que brota do conhecimento
de si mesmo
e, portanto,
da vontade firme,
da autoanálise,
da mágica da meditação.

A paz que eu lhe desejo amadurece
no solo ingrato das desilusões da vida real
e é filha
da capacidade de superação.

É uma paz que exige luta armada
contra as próprias mazelas interiores;

que exige derrotar inimigos ferozes
como o orgulho,
o egoísmo
e a vaidade
que, sei,
não perecerão sem resistência,
sem derramamento de sangue
próprio!

A vitória é o desenvolvimento
da sua capacidade de renunciar,
de renunciar a tudo que não importa
- que é quase tudo! -
e seguir feliz na vida
com o que você é,
trabalhando,
sem pensar em recompensa,
auxiliando e servindo
pelo privilégio bendito
de exercer o amor.

Depois disso,
o sono agitado do mundo será para você
inofensivo entorpecimento

e sua paz não será de fachada,
será conquista interior.

Essa paz é esforço
e não indolência.

Essa é a paz que lhe desejo,
e a mim também.

Gilberto de Almeida
13/01/2016